Fuligem incrustrada nas pequenas rachaduras dos pés, entre
as unhas mal cortadas e ocupando o espaço avermelhado das frieiras.
Matilde não tem casa, mas quando se dirigia ao que ela chama
de lar, era assim que estavam seus pés.
Depois de amolecer a sujeira secular de suas patas no chão
molhado pela garoa, na Avenida São João, sentiu-se satisfeita e incapaz de
fazer mal a uma barata. Não porque ela seja boazinha. Mas sim porque alguém já
havia feito o serviço antes.
Um mar de baratas mortas!
“Estou navegando numa calçada cheia de baratas implodidas.
Câmbio”
Ria como uma sonâmbula, bêbada de felicidade com
esfacelamento coletivo daquelas que eram tão nojentas quanto ela mesma.
Matilde e a sujeira dos seus pés são quem sobreviverão a um
ataque nuclear.
As baratas não; mas elas não sabem disso!
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