sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Adúltera

Fechei os olhos e assim que comecei e dirigir o carro, um homem conhecido entrou na minha frente com algo na mão. Um bastão de ferro, talvez. Não sei se queria me assaltar, mas o fato de entrar na frente do carro, não me deixaria seguir. Não lembro se segui, mas meu coração parecia que iria explodir, quando abri os olhos. Não queria acreditar que em menos de 10 minutos de olhos fechados, algo tão terrível pudesse acontecer. Depois que o coração se acalmou, fechei os olhos novamente e do que aconteceu dessa vez, só ficaram poucos flashs.
"Você sabe onde se perdeu".
Não sei e odeio enigmas.
Mas fui revirar ossos, rever textos mofados e... continuo a mesma. Palavras de falsa esperança, uma ironia grande diante da possibilidade de viver algo muito grande, uma tendencia forte e cultivada a toneladas de adubo de se autodepreciar, para ganhar mais louros. Uma modéstia forjada na culpa católica.
Sendo severa comigo mesma, impeço que outros sejam. Impeço? Não!
Gostaria de acreditar nisso, mas acabo fazendo com que ele me encontre, mesmo quando entro num carro novo. Esse homem conhecido, um dia, revirou meus e-mails, minhas mensagens, me massacrou porque eu queria ser livre com meus amigos. Teve outro dia que ele me pediu para apagar um texto que escrevi numa página de fotos que eu tinha. Disse que aquilo era muita exposição. Ele também falou que eu não poderia usar um decote, numa corrida de carros. Ele fez um escândalo quando eu sambei, ao lado dele, durante uma festa de formatura. Ele se recusou a me dar a mão enquanto descíamos uma montanha. Ele usou, um milhão de vezes, a desculpa de que "eu era muito pra ele"... mas ficava feliz, quando eu desistia dos meus compromissos para estar nos que eram só dele. E foi mais de um milhão de vezes que ele me chamou de louca. Quando não me entendia, quando eu o repelia, quando via minha alegria, quando eu cuidava das coisas que eram minhas! Louca, quantas vezes louca disse e louca eu deixei que me resumisse. Quantas vezes louca me disse e louca deixei que me freasse? Louca deixei que se aproximasse, que visse meu medo e que ao final, quando finalmente me rendi, louca me deixou porque  outra era mais calma para andar de mãos dadas em público e montar apartamento. Quando não te quis, virei sacana, quando você não me quis, finalmente aprendeu o que é melhor pra si. Esse cara, um dia, duvidou que eu viajasse e quando viajei, me chamou de louca. Quando finalmente se encorajou a viajar, fez um filho com outra. Esse cara era casado quando me cobrava a senha das redes sociais, quando me trancava na sua masmorra na zona sul e poluía meus ouvidos com seu sotaque. Esse cara nunca assumiu um compromisso, mas quando soube de outra intenção minha, me chamou de traíra. Esse cara quis me dar um monte de coisas que não pedi e quando eu disse que não queria mais nada, me chamou de mal criada, de ingrata. Encontrou seu jeito de me chamar de louca e quis me comover dizendo que seríamos felizes, enquanto arrastava seus trapos pela rua. Esse cara ficou dias sem me escrever, sem me dar uma notícia. Esse cara terminou comigo por e-mail, com palavras, com mensagens que nunca mandou, com fotos postadas com outra moça, com coisas ditas pra outras pessoas. esse cara me chamou pelo nome de outra mulher, me condenou por coisas antigas e esqueceu de limpar os pés cheios de lama antes de entrar nos meu passado.
Nunca pedi nada pra esse cara... E a loucura consiste exatamente nisso. Sempre fiz questão de mostrar que eu não precisava e que pelo contrário, eu poderia ajudar, ajudar, ajudar até morrer.
até que um dia.... pedi.
e o que ouvi foi um grande silêncio, uma enorme reticência.
Depois veio um 'Não dá'.
Um buraco abriu no chão e esse cara caiu lá dentro. Achei que tinha sido eu, mas foi ele mesmo. Doeu ver o buraco abrindo e ele ali, finalmente desaparecendo. Ele ainda tentou sair um dia, quando eu disse que queria conversar. ele disse que eu tava muito "Janis Joplin¨... disse ainda, me vendo resolver uma questão difícil da minha vida, sem saber o quanto aquilo significava, que finalmente eu "tinha tomado vergonha na cara".
tapei o buraco do chão e somente diante disso é que sobrou espaço para ver o tamanho da ferida que ficou em mim. E não dá pra saber ainda o que fazer com ela. Não adianta se demorar tentando descobrir quando começou, mas sim o que fazer pra ela não ficar maior. Não dá pra saber em quem confiar, são todos suspeitos. Se esse cara pulou na frente do meu carro essa noite, é porque alguém deixou ele sair. E se ele tá bravo, vou ter que blindar meu carro. Tem um pacto sendo estabelecido com uma mulher que ainda estou descobrindo. Ela precisa ser fiel à si mesma, cuidar de si, pensar mais, sentir também. Talvez isso seja uma esperança de casamento verdadeiro.

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