sábado, 14 de junho de 2008

Exercício de Liberdade










"Bonito caderninho. Era isso mesmo. Acredite em reações espontâneas. Eu imaginava um assim. Não gosto de escrever por obrigação e sinto-me realmente incomodada em ter que fazer registros de aulas e fatos que não me causaram nada. Ao mesmo tempo que sei que estou conectada com os acontecimentos mínimos". A porta entreaberta que balança sutilmente com o passar silencioso da faxineira da faculdade, o cachorro que me acompanhou no trecho medroso do meu caminho até em casa, a criança que sorri na lotação, o sorriso do cobrador ao receber um "boa noite". O "distraída" é proteção, para que por enquanto eu experimente a conexão com as minhas coisas. Ecos do interior. Onde as “garçá” dá meia volta e senta na beira da praia...e do rio também.

Há um ano atrás, esse era o post lá no fotolog. Fui hoje visitá-lo porque visito coisas antigas, sempre e hoje. Bem ou mal. Verdade e não-verdade. Me fazendo bem ou me tirando o chão.
Realmente não gostava de fazer registros de algumas aulas. Achava um exagero ver quem o fazia nitidamente para mostrar que estava fazendo. No meu caderninho de liberdade, entra só o registro da data, se isso for o suficiente para mim.
Tanto não me obrigo, que durante a semana, escrevo textos mentais dos pequenos acontecimentos. O cego que entrou no Tatuapé e ainda estava criando intimidade com sua mala nova. A gêmea que usava óculos, (a outra não) e paquerava o menino do outro lado do vagão. Saidinha que era, atravessou o corredor e sorriu para ele. A mulher que vende panos de prato no Carrão e gritou para o cobrador “Cê leva iêu?”. Nenhum deles foi para o papel.
Me ocupei de contar quantas pessoas liam no metrô, quantas vezes meus olhos se irritaram ao tentar ler com a claridade batendo nas páginas, quantas vezes xinguei por dentro alguém que me passou a frente ao esperar o trem na plataforma. Me ocupei do que pude. Me ocupei de andar, quando não queria esperar, me ocupei de esperar quando não tinha força. Me ocupei de conter quando convinha conter.
Às vezes me ocupo do que não presta e me deixa imprestável. Aí tomo um banho e coloco o vestido de florzinhas nada apropriado para dias frios.
Dias sem nenhum crônica.
O vazio primordial. O arqueiro que acerta o alvo para acertar à si mesmo.
Me mantendo ocupada, abro espaço para o novo. Esperando, não acontece nada. Só “minhocações.”
Se não sirvo para os peixes, adeus minhocas.

Nenhum comentário: