Ela não fala com rancor da mulher melancia, da morango, samambaia, jaca ou jiló. Ela só se incomoda com a chuva que estraga a chapinha e molha a sandália. Tá sempre bem arrumada, não chama muito atenção, mas há quem repare na beleza de hall de prédio de classe média. Reparam assim...feito você que repara numa vitrine de shopping.
O que mais identifica a mulher pingente, é o homem do lado dela; rapaz-de-calça-jeans-cabelo-espetadinho-que-frequenta-balada-da-vila-olímpia, que não liga a mínima para o que ela diz, mas todo sábado a noite está com ela a tira colo fazendo um “esquenta” num posto qualquer.
A mulher pingente fica num monólogo eterno e solitário com esse rapaz. Quando se juntam com outras da espécie, provenientes de cantos diversos da cidade, falam da última ponta de estoque da Diesel, lançando olhares falsamente desinteressados para o moço.
Ele só conversa com os amigos. Falam de carros, das baladas da moda e está sempre um passo a frente da pingente. O que ela fala fica flanando. Muito abaixo do vigésimo quinto andar do ego dele. A voz da garota souvenir, não tem forças para chegar lá em cima. Lá, no topo do arrogância marombada dele, somente o bafo das últimas notícias sobre os litros de vodka que ele adquiriu no contrabando, sobrevive. A vodka que tá na mão dele não é nada perto da que tem em casa. Ele vive de relatos sobre coisas impressionantes que supostamente aconteceram num só final de semana. Até Spilberg desacreditaria dos efeitos especiais. O caminho de volta para casa, serve para ele planejar silenciosamente o que vai fazer depois de despejá-la. Alguns beijinhos de boa noite dispensado à mulher enfeite e ele saí primitivamente. À caça de outras descartáveis.
O portador da mulher pingente não liga a mínima pro momento que vive. O que importa está no que passou e no que virá. E a souvenir, balangando ali na frente dele, é sua única subconsciência de momento presente, a única lembrança remota de que é quase um ser capaz de se relacionar. Mas ele sempre rompe o fio.
Diante de tanta (i)responsabilidade do rapaz no destino da moça, não pense você que seria capaz de salvá-la de seu drama. Não perderia meu tempo, portanto não deixarei que desperdice o seu. Geralmente pingente não sai da corrente e quando sai, não serve para nada. Sim minha gente, a grande questão é que a pingente não quer sair do colar. Poderia ser fabuloso já que escolhido. Mas é, antes de tudo, irreversível. Queria que fosse triste, mas é apenas banal.
3 comentários:
"Geralmente pingente não sai da corrente e quando sai, não serve para nada."
Isso é fato. E que texto mais, mais, sei lá...não tenho o adjetivo agora! rs
Muito bom!
E eu tô te seguindo no twitter! hihi :)
Que seja triste enquanto...
Eu não acho triste viu.
Cada um cava o seu buraco.
Postar um comentário