terça-feira, 2 de março de 2010

Calibre ou Ainda falta muito pra chegar no limite

Minha escrita se descontruiu toda e assim como no estágio da vida que me encontro, estou entre o final e o começo. Num momento de total indefinição que não é desconfortável. É uma indefinição boa, de calma e de observação. Estou formada, solteira, empregada. Formada no curso que escolhi, que concluí superando o que esperava. Solteira, agora sim por opção, depois que aprendi a dor e a delícia de estar comigo, sem estar imune a uma grande saudade, claro!.(Que só vira dor em época de tensão pré menstrual). Empregada, não com o emprego dos sonhos, mas um emprego que aprendi a gostar, que paga minhas contas e que me deu companheiros interessantes e uma amiga de infância. Meus amigos. Que não são meus, não os possuo. Os amigos de sempre, que às vezes se desgarram, às vezes seguem por caminhos tortuosos, mas esse momento que estou vivendo transitanto entre uma coisa e outra, me permite reencontrá-los carinhosamente pelo caminho e de alguma forma andar junto com eles e com nossos projetos. Sim, agora somos grandes e temos projetos.
Essa semana, ia escrever sobre espaço, alimentada pela primeira experiência vivida com o projeto pensado pela Marcella e pela Kelly. Sobre a rua. Sobre o corpo. Depois, ia escrever também sobre ganância, que não tem nada a ver com o projeto delas, mas se eu desse uma volta bem grande na minha escrita, conseguiria relacionar as duas coisas. Não! O projeto delas não é ganancioso! Mas na rua a gente vê sede de ir, sede de chegar no progresso, na ordem, no sucesso que não conhecemos. Só idealizamos. E adoeçemos na cidade por causa do que nunca vamos alcançar.

Acho que não precisei dar uma volta tão grande.

Aí entrei aqui no blog e decidi que hoje é dia de escrever sobre aquelas coisinhas pequenas, que viram essas doenças grandes que assolam nosso ser, nas empresas em que trabalhamos, os grupos que participamos e porque não, entre amigos não é mesmo?
Sabe aquela coisinha chamada recalque? Não...perae...

Segundo o Michaelis:

recalque
re.cal.que

sm (der regressiva de recalcar) 1 Ato ou efeito de recalcar; recalcamento. 2 Constr Rebaixamento da parede ou da terra depois de pronta a obra. 3 Psicol Exclusão inconsciente, do campo da consciência, de certas idéias, sentimentos e desejos que o indivíduo não quisera admitir e que todavia continuam a fazer parte de sua vida psíquica, podendo dar origem a graves distúrbios.

Indo, não muito longe, a Wikipédia tem uma definição, que assusta, dada as proporções estruturais que a coisa pode tomar:

O recalque é a principal causa de trincas e rachaduras em edificações, principalmente quando ocorre o recalque diferencial, ou seja, uma parte da obra rebaixa mais que outra gerando esforços estruturais não previstos e podendo até levar a obra à ruína.

Encontrei ainda, num blog, uma definição mais direta, no ponto em que quero chegar: (Link do blog: http://ghiraldelli.ning.com/profiles/blogs/psicologia-filosofica)

"(...) Primeiro vamos a seguinte pergunta: o que é um recalque? Segundo a psicologia freudiana, recalque é tudo que ficou de frustração do passado remoto, lá na sua tenra infância, ou também, num passado recente. Bem, essa frustração não fica no nosso consciente como um pensamento ou uma percepção cognitiva (dos sentidos), mas fica no inconsciente e isso vem a tona quando nos deparamos com que o outro é ou conseguiu, sem se dar conta, que projetamos no outro o que queríamos que fossemos."



Viu? É grave! Tanto na arquitetura, geologia quanto na psicologia. Não deixarei as ironias a parte! Há seis anos atrás eu escrevi um texto bem ingênio sobre o termo "baranga". Minha ingênuidade ainda permite que eu seja vítima da minha própria incredulidade. Por que então que eu não continuaria sendo vítima do recalque alheio? Mas...veja que o termo vítima aqui só se refere ao fato de o recalque estar apontado na minha direção. As minhas armas estão mais afiadas, já sei bem o tamanho que tenho. Escrevo e ando com minhas próprias convicções e dúvidas.
Escrevo sobre a gravidade do assunto, porque muitas vezes a pessoa que têm essa frustração inconsciente, se frustra com coisas que ela acha que o outro conseguiu e na verdade, o outro, que sou eu neste caso, não chegou nem perto de conseguir.
Sabe o que eu faço quando eu não consigo uma coisa? Eu sofro! Sofro muito! Sofro demais. Choro litros, como horrores, paro de comer, não durmo, durmo demais. Vou aos extremos. Se o fato de eu não ter conseguido alguma coisa tiver a ver diretamente com a intervenção maléfica e impiedosa de alguém, que seja debandado pros lados das forças do mal, primo-irmão de Lúcifer, maldigo o nome do infeliz por um ou dois dias. Mas no fundo sei que a responsablidade não é totalmente minha por não ter conseguido, ou ter conseguido alguma coisa; ela é no mínimo compartilhada.
Quero dizer, às recalcadas de plantão, porque sim, a maioria das minhas alvejadoras silenciosas e dissimuladas são mulheres, que se não conseguiram o que acham que consegui, a responsabilidade também é de vocês. Se eu consegui o que acham que consegui e vocês não, não tenho nada a ver com isso. Se querem me responsabilizar pelo que não conseguiram, é porque...não têma real dimensão de seus papéis como ser humano aqui na crosta terrestre.
Esse texto, tão ingênuo quanto o de seis anos atrás, é um desabafo quase "inédito" em primeiríssima pessoa. Porque aprendi com uma alguém muito importante, a colocar os dois pés no chão, a não fugir dos problemas. Não adianta nada correr deles se sou eu mesma que os carrego comigo. A novidade está por aqui mesmo, é só criar. Na vida real tem sempre que se fode e uma hora esse alguém é você, não importa de onde vem o tiro e não vem nenhum autor mudar o final da história.
Numa cidade desse tamanho, não é crime nenhum estar bem na posição em que se está, de cidadã pagadora de seus impostos e transgressora de algumas leis e verdades. Numa cidade desse tamanho é obrigatório, quase um pedágio, cair, deixar o corpo sentir a dureza e os desníveis do cimento, o calor e o frio do asfalto.
Então, ao invés de responsabilizar à mim e a quem quer que seja pelo seu mundo não ser o conto de fadas que queria e sim o mundo cão, como o da maioria das pessoas, reorganizem vossas estruturas há tempo de que as rachaduras que causaram em si mesmos não os levem terra abaixo. Coloquem pelo menos um pé no chão. Porque no fundo eu sei, que daqui há pouco vamos nos encontrar você vai sorrir e dizer "Olá flor, como vai?"
Eu vou dizer: "Tudo bem!"

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