Machado de Assis diz, em “O Nascimento da Crônica” que o
meio certo, porém velho de se começar uma crônica, é por uma trivialidade.
Eis aqui uma das boas. Uma trivialidade boa, não uma crônica
das boas!
Não era meia noite ainda, mas a fila do caixa rápido do Extra Mooca era típica das 19:00 horas de um sábado em final de semana de
pagamento. Mas, a conversa de dois barbudos atrás de mim, não era nada típica.
Não para meus ouvidos acostumados com a pauta sapopembana durante 28 anos.
Ambos bradavam a plenos pulmões (adoro escrever “bradavam a
plenos pulmões”) as maravilhas da escrita de Bukovsky e Dostoievski.
Acabaram de estragar minha crônica!
Porque à medida que
falavam, eu queria me esconder nos pacotes de Fandangos, que gritavam para ser comprados, naquele corredorzinho opressor que eles dividem com papel alumínio,
esmaltes e revista de gente emagrecida no photoshop.
Minha crônica acabou, porque como vou falar de dois homens
lindos com suas barbas enormes e de babaquice proporcional ao tamanho da barba, por estarem prestes a acender um
charuto intelectualóide numa fila de... supermercado?
Bukovsky desperdiçaria uma garrafa de vodka ruim, quebrando na cabeça de um e usando os caquinhos pra cortar a cara do outro! Dostoievski não sei... Ao cogitar sua reação, me despersei conversando com a caixa sobre o preço do escondidinho da Perdigão, que tava bem baratinho aquele dia.
*O
aborto original dessa não-crônica nasceu perto das 20:00 horas de uma noite
terrível, quando Matilde ainda mantinha sua amiga Clotilde em semi liberdade. Foi açoitada
psicologicamente por palavras que não proferidas. Clotilde engoliu um lápis e se afundou no papel. Riscou com força, até sair faísca e queimar cada palavrinha.
Memórias atuais de Clotilde Cuzona
Um comentário:
Eu compraria um Prestobarba para cada um deles, Matilde. Beijos.
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