quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Avenida 23 de Maio, caminhando contra o vento de dia frio cortante, ao lado da moça medrosa que recuou por medo do garoto mal encarado de blusa preta que seguia um pouco mais à frente. Atentou para como estava andando, a tranquilidade diante da histeria da outra moça. Apesar da tranquilidade que o momento exigia de si, já que, resignada fazia o caminho à pé, tomou consciência quase heroica, de que num contexto geral, vivemos um momento realmente sério. Achar-se inserida num quadro político, ético... e ... num suspiro quase infantil, mas ainda mantendo a gravidade de 5 segundos atrás, acrescentou à si a certeza de que estava projetando para fora de si, a seriedade que estava tendo que ter consigo mesma.
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O subtexto é uma camada, transponível, porém ignorada, à princípio. Mas o subtexto aqui é mais que o texto, porque ele grita mais alto. Há um quê todo da Matilde querendo saltar por algum boeiro da 23 de Maio ou dar uma canelada na moça loira. Mas por hora, o que poderia ser o texto começando para Matilde, é este acima, com a consciência de si, somente no final. Ela nunca deixaria o suspiro no final. Matilde é existência dura, pré suspiro.

E uma outra camada de mim mesma, ainda maior que a anterior, abre-se diante da tela digitada. Escrever é algo forjado, à duras penas. Mas trata-se de uma punição imposta pela própria vítima, que se retalha em milhares, para que um dia se encontre com partes amadurecidas de si, no meio de tantas palavras.

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