sábado, 24 de maio de 2008

Como beijar o céu? Começando pelo chão.


Nada de elaborações. O que acontece é que eu não estava feliz.
Escrever tem sido a maneira descompromissada de liberar espaço aqui dentro. Ler, o jeito diário de viajar até o Metrô Brigadeiro. Escrevendo para mim, para mim, só para mim.
Apaguei o último post do fotolog não só porque recebi uma crítica mais enfática e direta. O que escrevi era para mim.
Seria muito estranho, nesse momento, escrever sobre qualquer coisa que não fosse...o que está sendo.
Durante as leituras escrevo. E durante a escrita, sou interrompida. “A minha salada chegou, mas pedi de rúcula. Rúcula. E me mandam alface.” Como mesmo assim. Fico olhando milhares de vezes no celular, para calcular os minutos que tenho até ter que subir. Me perguntando as perguntas que não são minhas. Não é ruim me sentir bem no trabalho que estou, na rotina que estou, sem o teatro em que não estou. Eu ainda estou pulsando.
Aquela história de que eu não queria mais nada, de que eu não tinha vontade para mais nada. É verdade.
Não queria nada do que eu estava vivendo. “Ah que pena, você realmente merecia terminar”. Como assim? Merecimento. Merecer. MERECER. Percebe essa palavra: MERECER; fala sílaba por sílaba e vai ver que ela não é muito apropriada para essa situação.
Aqui não foi o acaso que decidiu por mim, não foi uma luta sem recompensa. A desistência não foi um afogamento e não terminar a faculdade não foi o destino cruel a que os pobres jovens de periferia estão condicionados. Minha condição foi condicionada por mim, no que diz respeito a isso, até aqui.
Teatro. A pergunta não é essa; “Ah, você descobriu que não era isso que queria?”.
A pergunta é por que eu queria tanto.
Sempre foi difícil, há 8 anos tudo têm sido difícil, há 5 eu comecei a aprofundar os estudos, há 1 eu decidi ir para cima, coincidentemente comecei a questionar tudo, há alguns meses comecei a duvidar. “Questione mas não duvide”. Pois então me distancio serenamente para ver de outro ângulo e ir numa camada mais profunda do que a que superficialmente me apossei e me agarrei como última tentativa de não desistir. Tentar não desistir é por si só uma afirmação de desespero.
Desisti do teatro. E ao contrário de todas as outras vezes que pensei em desistir, o pensamento a frase, a conclusão, não vem acompanhada por um choro compulsivo. E olha bem, não me sinto desconfortável quando me perguntam quando eu volto, se retomo a faculdade, se quero montar um grupo, por que disso ou daquilo. Me encaro bem nessa escolha; me descobri uma perfeccionista frustrada, uma inquieta com pose serena e gentil, uma descontente com reclamações cheia de camuflagens engraçadinhas.
Nos últimos meses eu fiz descobertas incríveis, tive encontros delicados com um ou uns novos jeitos meus de interpretar. Abandonei velhos vícios de interpretar. Questionei tantos outros tipos de interpretar. E cheguei no fundo do poço, no pavor, no terror de entrar no palco e... interpretar.
Aos companheiros (aos que gosto e não gosto) de início de TCC, ficaram questões. E não vou colocar aspas entre elas. Falarei em primeira pessoa, já que os velhos hábitos escapistas não valem.
As escolhas estão ai para serem feitas. Lá no início houve propostas, as quais eu me propus também. Mas no meu caminho há um propósito maior, quase etimológico, do que é ser verdadeira. Eu virei um exemplo qualquer, para qualquer coisa, e isso não é de verdade.
“O ator não deve fazer o laboratório do convencer-se”, foi alguma coisa assim que a Marcella disse. Poderia ser Machado, Guimarães, Pirandello e foi a Roma, tão proposta quanto qualquer outra proposta. E a escolha passou a ser...escolhas.
Eu fui uma atriz que me convenci. Me convenci de que realmente sempre fui boa e poderia ser mais e mais ainda, mesmo aos trancos e barrancos, no que eu tava fazendo. Me convenci. Quase numa disputa comigo mesma, sem falsa modéstia “Tudo bem, vocês venceram, vou continuar fazendo isso aqui porque sou boa nisso.”
Só que eu não estava feliz.
E por favor, sem dedos. Ainda vou ao teatro, posso ouvir as intermináveis conversas sobre os laboratórios. Não nos tratem, a mim e ao teatro, como namorados ressentidos que fingem que não se conhecem mais. Até me emocionei numa peça que fui assistir semana passada. Fiquem tranquilos. Andei olhando uns sites bacanas sobre jardinagem, animas domésticos. Está sendo ótimo ELIMINAR A PORRA DO JULGADOR.

Boa noite.

Ouvindo Cindi Lauper.

2 comentários:

AlfajoR disse...

De tantos tcc's cênicos que vi e acompanhei, não havia lido até agora um relato desses. E tendo visto sempre a falta de convicção nas coisas todas, o "desistir para escolher" precisava de um reforço a mais. A mim parece que o coletivo teatral não suporta indivíduos.

UtópicA disse...

MInha vontade de ler tudo ao mesmo tempo aqui agora era tanta, que acabei lendo tudo muito rápido, quase que três palavras de cada parágrafo. Ainda tô tentando entender se você trancou mesmo a faculdade... chocada. Adorei vc ter voltado a escrever e já te disse que vc pode postar no meu blog a qqr momento, ne?

ai que saudade de vc, q saudade.
um fim de semana doido desses eu pouco aí...

mas até lá eu voto ainda pra coentar mais e mais nesse espaço novo, cheio de vida.

te amo amiga, isso é fato.
saudades infinitas

bia