quinta-feira, 26 de junho de 2008

Movimento separatista ou Avenida Conselheiro Carrão

"No Brasil os trólebus surgiram em 1949 na cidade de São Paulo[2]. Vários sistemas seriam criados entre os anos 1950 e 1960 como os do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Niterói, Porto Alegre, Salvador, Campos dos Goytacazes, Fortaleza entre outros, sendo a maioria destes extintos até o início da década de 1970. Restariam, daquela época, apenas os sistemas de São Paulo, Recife, Santos e Araraquara."

Duas horas e meia. É o tempo que geralmente levo em dias levemente caóticos como as quintas e as sextas para chegar em casa. Hoje não foi diferente. Me dispus até em ir de pé na primeira lotação que estivesse na plataforma, para não perder muito tempo. Não adiantou. Há um absurdo inexplicável (mas incrivelmente verdadeiro) de que quanto mais cedo se sai do trabalho, entre 18:00 e 19:00 horas, mais tarde se chega ao seu destino-casa-faculdade.
O problema do meu trajeto, na maioria das vezes, é a Conselheiro Carrão. Paralela à ela está a Aricanduva, que poderia ser uma boa opção se tivesse ônibus direto para a minha residência e se não houvesse uma fila considerável até conseguir entrar em um dos ônibus que faz o percurso por ela. Portanto vou pela Conselheiro, que tem esse nome, porque o Sr.João da Silva Carrão, era um homem importante em sua época, segundo consulta à Wikipédia.
Chegando à um trecho da Avenida que "normalmente" leva 20 minutos para ser percorrido; já estava ali, parada, resignada, desconsolada há pelo menos 40 minutos...de pé...de salto alto...com um cidadão recém saído de seu digno happy hour, bufando seu respectivo bafo feliz ao alcance de minhas ventas.
Um pouco mais à frente, estaria o Terminal Carrão. A essa altura, todas as pessoas que atendiam ou faziam ligações ao celular repetiam a mesma referência: " chegando no cemitério". Cemitério Vila Formosa, fica ao lado do Terminal Carrão. Este sim fica no Carrão, porque o Metrô Carrão fica no Tatuapé.
Conflitos de localização geográfica a parte, senti cheiro de Trólebus quebrado. Trânsito ali tem, é fato; mas daquele jeito, só poderia ser defeito nos fios elétricos, algum que enguiçou na esquina da João XXIII ou algo intimamente relacionado.
Apesar dos "prós" relacionados também na Wikipédia, nunca na vida achei graça ou utilidade nessa invenção, charmosa e ecologicamente correta para uns e tão sem propósito para mim.
Só de lembrar o barulho discreto, a velocidade reduzida, o calor enjoativo, a catraca simplezinha, das janelas altas, os bancos cinzas, fico enjoada. Me lembra infância asmática rumo a Rua do Glória, no Sindicato dos Metalúrgicos onde tiravam um número considerável de radiografias de meus frágeis pulmões. Considerável, para uma criança de 7 ou 8 anos, digo.
Por esses pulmões, hoje cheguei, não à invenção da roda, mas à um pensamento que veio agregar um argumento para a não existência desse meio de transporte inconveniente para minha cidade. Lembrando que não escolhi morar aqui.
A quantidade de carros, de ônibus e caminhões que ficam parados ali na Conselheiro, 30 ou 40 minutos a mais do que ficariam, é absurda por causa de um misero Trólebus que supostamente teria a função heróica de salvar a cidade. A emissão de poluentes bate o que 10 desses "chifrudos" deixaria de emitir. Chifrudo é o apelido carinhosos que minha avó de 86 anos dá à esses ônibus.
Me pergunto: a quem interessa que esses ônibus continuem circulando em São Paulo?
Rapidamente minha cabeça dá um jeito de vagar para possibilidades utópicas. Ela pensa que se a cidade fosse menor, se o dinheiro não estivesse concentrado num lugar só, nunca eu precisaria passar por aquela situação e pensar aquele tipo de coisa. Sim, porque chegando à esquina da João XXIII, quem estava ali, vermelho e com pisca-alerta ligado e mais um carro-manutenção a tira colo?
Pensei que se a cidade fosse dividida em micro-cidades, cheia de seres humanos inteligentes, que produzisse o suficiente para viver e não precisasse atravessar fronteiras de gente, carros, metrôs, mágoas, depressões e marginais para ter o que precisa Trólebus ia ser motivo de piada, não sairia do papel em duas horas e meia eu percorreria as vielas da minha micro-cidade.

Um comentário:

UtópicA disse...

Já te falei que não consigo aceitar o fato de levar mais de 1h pra chegar a algum lugar "dentro" do Rio de Janeiro, né? Eu me choco com esse caos, cara. Mas tenho certeza que foram essas milhares de horas-vida a mais nos ónibus/metros, que fizeram de você uma menina tão mais inteligente , de tanto que lê.

Há de se achar alguma vantagem nesse caos, né, Flor?

E há de se sonhar com a utopia das vielas de uma cidade imaginária de pessoas inteligentes...

Haja paciência e criatividade.