terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Kozmic Blues

Antes de sair de casa, olhei pro relógio:

-Mãe, cê arrumou?
-Tentei, mas o dos minutos não ter força pra subir.
-Mãe...olha direito...
-Que é que tem? Tá sujo? Limpa você!
-Não mãe, o dos segundos...tá indo ao contrário.
-Ah...ha ha...é. Ele não tem força pra ir pro outro lado.


A preguiça manda nas relações. Gás de pimenta na Augusta, só porque as pessoas eram coloridas; e eu ali, toda cinza fiquei vermelha por dentro...e tossia, tossia. O cara disse que a mulher que trabalhava na loja tinha perfil de periferia. Tentei me olhar de fora para saber se meu perfil Zona leste o ofendia: o encarei, mas ele só falava, falava. Tava calor e usava um cachecol. Era de qual classe? Sono, muito sono. Sonhei que me atrasava e me atrasei. Ele me disse que esse ano seria bom. Não sei o que determina isso de um ano para o outro, mas senti um arrepio no braço esquerdo. Toquei num livro e ele também se arrepiou. O arrepio veio porque disseram que as dificuldades iam me ensinar um monte de coisas e foi muito estranho ouvir, parece piegas quando lido, mas nunca tinha pensado assim. É estranho viver e não tomar consciência do aprendizado? Assimilação. Aculturação. Na mochila cabe o suficiente e esqueço que tenho cnquenta centavos, porque não quero e não posso gastar. Depois que saí do cinema, não conseguia prestar atenção em nada. Durante o filme, prestava atenção em tudo, inclusive no nó da garganta e no ponteiro que era igual ao da minha mãe. Tocou Beatles e foi a primeira vez que Beatles me lembrou Beatles mesmo. Mas os dois no colchão no chão me lembrou o quanto era bom. Ela usava blusinha xadrez e toda vez que vejo alguém vestido assim ,me lembro da foto dele quando era bebê no colo dela. Ela que sempre diz a verdade, mesmo que impulsionada por ciúme. Dizer a verdade, somente a verdade. Esses dias têm sido de verdade e parece que não carrego mais pedras. Não levo nenhuma culpa para a cama a não ser a de não sair gritando na rua. "Chapéus, sapatos ou roupas usadas, quem teeeem?" . A única culpa que carrego é a de não sair gritando na rua, como quando eu era pequena. Ia até o final da rua, que é sem saída, descia correndo e gritava até acabar o ar. Depois voltava e fazia de novo. Tenho falado das verdades sem gritar, mas um dia chorei. Se elas mudarem, falarei também disso, porque antes de ser coerente eu quero ser. Qualquer coisa. Um jacaré.

Ouvindo "Simple Man" Lynard Skynard

2 comentários:

Naty Dezoti disse...

Jacaré não! Lá no Mercadão agora vende carne de jacaré. E a sua é tããão mais valiosa que a de um reles jacaré bocudo!!!

AlfajoR disse...

Já pensei em temperar coisas com gás de pimenta! As pessoas usam jacaré pra fazer sapato e bolsa, o que é uma coisa estranha.