domingo, 22 de março de 2009

Agora é comigo; agora é meu e para mim

Quando abri os olhos, depois de ter feito meu corpo balançar devagarinho, me vi. Lá na folha branca estava o espaço para todo o querer de antes, que virou o estar de hoje. Estou e não é só de solidão. É só comigo, para caber os outros. O que me interessa.
Há meses, sintia vontade de ir à praia. A vontade sabe esperar a hora certa, porque oportunidade não faltou. Só que as oportunidades não vinham de encontro com a calma da minha vontade. Carnaval, receber um número novo no último digito do ano, muita gente...essas coisas.
Esta noite então, calmamente decidi. E fui. Não roubei nenhum carro ao acaso nem peguei nenhum coletivo com meu famigerado Bilhete Único. Por falar em famigerado, poderia ter chamado Inara e sua moto, mas a rota de nossas casas estão opostas para decisões no meio da madrugada, mesmo para as cilindradas felizes das duas.
Apenas fui e no meio do caminho, pedi para que o nevoreiro esperasse minha passagem para cair. "Agora é comigo", ele pensou e não deixou ninguém que veio atrás me seguir.
Cheguei sem saber que praia era. Sentei na areia e não esperei mais nada. Só ficamos ali compartilhando as possibilidades. O mar me disse coisas difíceis de entender no início. O tempo não parou enquanto falávamos e devagar para a espera aprender a esperar direito, o sol veio no tempo só dele para amanhecer o dia e descobrir o que já estava na minha frente. Os olhos fizeram que meu corpo se levantasse e cheguei mais perto...e das conchas e dos furinhos que a areia abre com a água para que uma caiba na outra. Comecei a entender o que o mar dizia; me deixei cair no abismo infinito dele. Dizia que as pessoas só vão lá quando convém e pedi desculpas; mas não era só de mim que falava. Falava dos que assim como eu, o buscavam para uma outra compreensão, às vezes até para fugir e ao sair de lá esqueciam de tudo e...E então eu não tinha como mostrar que aquilo não acontecia só com ele.
Desocupei todos os espaços que ainda relutavam em se abrir, porque era a única forma de responder e fazer a minha promessa.
Como não convinha ficar ali para sempre, me despedi. E não prometi voltar em breve. Só lhe disse que iria continuar. Abrindo espaços, ocupando e me deixando em paz.


"Gandaia das ondas / Pedra e Areia" - Lenine

É bonito se ver na beira da praia
A gandaia das ondas que o barco balança
Batendo na areia, molhando os cocares dos coqueiros
Como guerreiros na dançaOooh, quem não viu vai ver

A onda do mar crescer
Olha que brisa é essa
Que atravessa a imensidão do mar
Rezo, paguei promessa
E fui a pé daqui até Dakar

Praia, pedra e areia
Boto e sereia
Os olhos de Iemanjá
Água, mágoa do mundo
Por um segundo
Achei que estava lá

Olha que luz é essa
Que abre caminho pelo chão do mar
Lua, onde começa
E onde termina
O tempo de sonhar

Praia, pedra e areia
Boto e sereia
Os olhos de Iemanjá
Água, mágoa do mundo
Por um segundo
Achei que estava lá

Eu tava na beira da praia
Ouvindo as pancadas das ondas do mar
Não vá, oooh, morena
Morena lá
Que no mar tem areia

3 comentários:

Naty Dezoti disse...

Bonito!

Gosto do gosto do mar. Gosto do gosto da Polly.

Amo.

Anônimo disse...

É preciso estar atento para ser. Ficar em paz é a única maneira de continuar a ser...

Kaká Bullon disse...

...deixar ser levada pela onda me faz sentir uma paz daquelas que percebo (nessas horas) que a muito não sentia...

..mas sentir a onda bater, passar ainda jovem por mim e chegar mansa na lá beirinha, me deixando ainda de pé na água dela, me faz sentir abrigadora de uma alma lavada, com energias recarregadas...

a 3 anos, saudade imensa da praia. mas minha saudade tbm tá sabendo esperar...