Sempre tive horror de pensar em dirigir. Minha ex-terapeuta, (ex e única porque não me ocupei de achar uma nova e não penso em me preocupar com isso) batia muitas vezes nessa tecla. Ela dizia que apesar de não entender de teatro, achava que dirigindo eu poderia sair do lugar do medo que tenho de algumas situações. Faz mais ou menos um ano que ela falou isso.
Este ano, durante o processo, foi proposto que todos ou quem quisesse, passasse pela direção de alguma cena. Deixei bem claro que não queria e expliquei meus motivos. O grupo entendeu muito bem e aos poucos, algumas pessoas foram passando por essa experiência. Semana retrasada, ao discutir o cronograma dessa semana que passou, eu pedi que fizesse a direção de uma das cenas. Houve surpresa, mas eu estava tranquila com meu pensamento de que se tantos já tinham passado por aquela posição, por que eu não?
No dia da direção da cena, não estava ansiosa. Mas também não estava desconectada do que ia acontecer. Achava que a cena merecia uma preparação, mas não sabia como fazê-la. Tudo o que estávamos vivendo nos ensaios, antes das cenas, e até durante, era muito ruidoso para mim e o silêncio que nos propusemos como projeto e que nos deparamos em diversos momentos do trabalho estava um pouco disperso.
Do meu jeito, usei a luz a favor da preparação. Um foco. Só. Pequeno. Aquele era o espaço em que as coisas deveriam começar. (Pensei depois que estou tendo certeza que deveria ter trabalhado com cinema, fotografia ou guarda noturno, manejando lanternas).
É difícil deixar de lado o medo de ser julgado. Mas alguma coisa aconteceu e esse medo foi sendo dissipado durante o tempo que me dei para dar conta das coisas que a cena me pedia. Só tinha um pensamento que me guiava: eu não preciso dar conta de tudo.
Do que me propus a dar conta, tive o apoio das pessoas do grupo para dar conta junto. O silêncio foi se estabelecendo não com ausência de ruído externo, mas como estado interno, desde a leitura. As perguntas e as respostas que fazia durante a repetição de cada cena para o grupo, era o que eu ouvia.
"Vereda da Salvação" é um texto longo sim. Mas já estamos indo para a rua com algumas cenas que escolhemos trabalhar de forma diferente. Posso dizer que chegamos a este ponto sem atropelos, com muito zelo. Cada um do seu jeito, com a parte do espelho estilhaçado que lhe compete.
E assim é o meu processo neste TCC também. Estou tento muito prazer e é dele que falo aqui. É claro que tem muita coisa ruim, muito sacrifício, muito saco cheio, muita dor. Meu ombro direito, lesado é a prova disso. Mas o prazer de uma descoberta do nível da que tive, como estado que experimentei e que ajudei a produzir, ameniza e ultrapassa em intensidade qualquer sensação de desconforto ou medo de reprovação.
4 comentários:
E eu acho que a intensidade do que se vive faz de qualquer coisa exatidão, sabe?!
E eu troquei de blog, vai lá. :)
Aí eu troquei de endereço de novo. :)
as descobertas e as sensações de explosão que causam (quando positivas) são o que valem a pena no final, não?
"Pensei depois que estou tendo certeza que deveria ter trabalhado com... ou guarda noturno, manejando lanternas."
... adorei isso. rs Já dizia Seu Madruga: todo trabalho é bom, o ruim é ter que trabalhar.
Besos
E dirigindo a gente aprende a não ter medo de nos atropelar.
Beijos da Dezoti ansiosa por ver essa Vereda!
Postar um comentário