domingo, 27 de setembro de 2009

É isso aí

Essa noite sonhei que escrevia alguma coisa aqui no blog. Sonhei que mandava flores para um rapaz, que o palco do teatro tombava em cima de mim e da Vanessa ao arrastarmos o poço do cenário, sonhei que tinha doce de leite na cabeça de um cachorro e alguma outra coisa que não me lembro. Tudo o que sonhei veio como avalanche pela manhã enquanto assitia Tom e Jerry. A Luana ouvia os relatos com cara engraçada.

A escrita pode ser um relato do dia hoje. Pode ser sobre a semana cansativa. Pode ser sobre a abertura do processo que está há um mês da estréia. Pode ser sobre minhas dores nas costas. Pode ser sobre minha mãe me pedindo para andar com um dente de alho para evitar mal olhado. Pode ser sobre eu pensar que realmente seja uma boa ideia.

É estranho sentar na frente do computador para escrever assim depois de algum tempo. Aliás, das últimas vezes foi estranho. Desde quando comecei a escrever neste blog, era como se as coisas fluíssem, como se os textos pedissem para nascer e eu os desse vida. Mas não tenho sentido tanta vontade de escrever por aqui. Minha forma de produzir e de estar tem sido o palco. Até o meu trabalho nada artístico, mas sim burocrático na seguradora tem me feito sentir produtora de alguma coisa; não tão grandiosa quanto a potência que tenho encontrado no teatro, mas acho que descobri um lugar-produtor-coporativo para me fazer aguentar os dias cinzentos e chuvosos. Pasmem!

Tem uma coisa muito importante para que me sinta assim. Uma coisa muito simples. A partir do momento que me propus a voltar para a faculdade, a trabalhar apenas para que consiga me formar, pouquíssimas vezes a vontade de desviar o foco me ameaçou. Fiquei mais atenta para o que devia estar e encontrei meu eixo para não desequilibrar no abismo que é estar viva. Pelo menos, das vezes que desequilibrei, soube como voltar para o eixo. E não se trata apenas de voltar para um lugar seguro. Quando falo de eixo, falo de mim. Eu sou o eixo. Não tem nada de egocentrismo na minha fala. Que outro lugar uma pessoa pode estar, senão nela mesma?

Por isso não entendo como uma mulher fica meses grávida e diz não saber. Por isso recrimino (inclusive à mim) o sofrimento em vão que é, depois de uma separação, de um não, de um adeus, achar que é o fim da vida e que dali para frente só haverá trevas, decepções. B-O-B-A-G-E-M. Não li nenhum livro de auto-ajuda e também não acho que teatro é terapia ou que foi ele que me fez ver tudo assim. Muito pelo contrário. No teatro, quem vai fundo, lida com a loucura e para isso, tem que ter alguma rédea de si mesmo nas mãos. Descobri minhas rédeas de atriz, os mecanismos que não me fazem enlouquecer ao trazer uma fanática para a cena. Descobri minhas rédeas de mulher; o tamanho do meu amor e da minha vontade de fazer, sem atropelar a tranquilidade que naturalmente se manifesta para deixar as coisas acontecerem.

Tenho lidado com as situações. Não importa se boas, ruins, complicadas, engraçadas, revoltantes. Elas me pedem calma. Alguém me pede retidão. De outro lugar me pedem que confie e que seja paciente. Obedeço, pois alguma calma ainda há. Os meus pés tocam o chão com leveza, como se eu estivesse descobrindo um novo amigo para me acompanhar. Não é o acaso. É o momento certo de ser, para quem sabe, fazer o próximo texto nascer de um sonho também. Pode ser que eu fale de flores ou de cachorros. Ou de uma viagem...ou do sonho.

Um comentário:

migrañaloco disse...

"...há sempre alguém que não vemos, nos deixando flores..."

escreva MAAAIS!