domingo, 28 de março de 2010

Estação Ipiranga

Ele pensou que ia me assustar batendo os pés frenéticamente no chão. Pensou. Mas estava tão preocupado em me assustar, que não conseguiu me perceber e ver que é preciso mais que uma simulação de virtuosismo numa bateria imaginária, numa estação de trem às onze da noite, para me fazer franzir a testa e sair. Ele não percebeu que em meus sustos interiores, provocados por coisas bem maiores, eu já havia despertado para dentro com coisas que ele jamais entenderia. Eu despertava vestida de preto, batom vermelho, um cigarro aceso nas mãos. Uma imagem batida para me proteger dos medos. Ele tinha os cabelos repicados, os óculos de grau muito grandes e as pernas muitíssimo finas. Era muita fragilidade junta tentando me irritar; ele insultava minha sandália, minha saia e meus colares. Insultu que era rebatido pelo meu sorriso, que era pra dentro. Gargalhei quando chegou um moço forte, desses malhado de academia. Sentou-se ao lado dele. As pernas parararam e os óculos reduziram-se como pó.

2 comentários:

Bill Falcão disse...

Hehehe!!! Bem feito pra ele!!!
Bjoooo!!!!

Alfajor disse...

Há fases em que é preciso algo muito-mais-que-humano para nos surpreender, creio.

Mas são figuras que sabem de si mesmas numa metrópole e, sem querer ou não, vão se enquadrando em clichês..