sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Matilde quer ter uma banda de rock e fazer um filme
Prefiro ficar trancada no quarto sem saber o que está acontecendo na cidade. Sexta feira cinza é pior que segunda feira ensolarada. Final de semana é como se São Paulo deixasse de existir e virasse outra coisa. É como se virasse um timbre abafado de guitarra no sábado à noite e uma batucada maldosa no domingo à tarde. Odeio São Paulo naquela linha tênue que a gente ama e deseja quem nos faz mal, quem nos põe na dúvida, quem nos deixa esperando...São Paulo é linda em pequenos recortes na mesma proporção que é feia no todo. Deixo os vestidos mostrarem meus joelhos para ver se a cidade e as pessoas percebem que não fui feita para implorar nada. Desejo atenção, mas não peço clemência nem idolatria. Nenhum dos homens da mesa servem para mim, mas agrego todos e a medida que nos aproximamos, dispo-me e deixo sim escorrer tudo o que sou. É opção e não acidente. A bebida não é fuga; é a trilha sonora do caminho. Não tenho dúvidas de que hoje sou outra com as mesmas distorções de antes. Não é fácil zerar as contas consigo mesma e sair impune de julgamentos e dedos na cara por conta do que abandonei e do que escolhi levar. Destruí o templo, o altar, apaguei as velas e hoje contemplo as obras e troco ideias bebendo do mesmo vinho que começou toda essa história. O essencial não muda e há mais de uma década é no mesmo mofo frio que medito as dúvidas. É aquele mesmo filme preto e branco, com risadas mudas, olhos esbugalhados sem graça nenhuma, mas que não canso de assistir. Eu surto. Sem pistas a seguir, o nó que prende meus pensamentos e as ações na minha testa continua por aqui me poupando das grandes tragédias e proporcionando desastresinhos íntimos e diários. A minha resposta vem quase tarde, mas é o toque na mesma tecla: todo dia me jogo. Erro porque não busco só o acerto. A muralha de proteção foi derrubada em doses de muita paciência dolorosa. Mas nada garante que um botão de replay apareça mo meu controle falso de mim mesma e me coloque em novas situações já vividas. É o preço do desapego e apreço pelo que tenho vivido e tá aí para quem quiser ver, pegar e passar uma rasteira. Sou uma vitrine onde qualquer um pode se ver. Não adianta querer ir embora. Quem se livra da própria sombra? De uma cidade com problemas desse tamanho? Sentimentos anacrônicos antecedem as cenas dos próximo capítulo.
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Um comentário:
Seu texto faz crer que precisa de ajuda. Profissional mesmo, no melhor estilo "vou parar de achar que eu sou foda e reaprender a estender a mão". Quem era a moça (ou moço) que tirava as minhocas da sua cabeça?
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