quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pensamentos soltos, os gatos e a Catedral Submersa


Só não tenho capacidade de falar da espinha do peixe. Posso tentar falar um pouco do gato.


Uma espinha de peixe pode virar tatuagem pra cobrir uma cirurgia do apêndice ou ser a base de um sistema de organização usado pela administração.
Ou é só uma espinha de peixe que o gato abandonou.
Abandonou?

Tinha uma criança vomitando suas referências geográficas, histórias e televisivas dentro do ônibus. Ela ignora que o nome da rua é tão...tão...tão quanto ela.
Criança é tão qualquer coisa quanto um adulto é. A diferença é que para ela tudo é concreto. A imaginação da criança é mais concreta que a vida real que a gente inventa quando cresce.

Já os gatos ignoram que problemas são problemas. As crianças têm problemas condizentes com suas idades para resolver. Gatos apenas invadem as catedrais só para observar.
Aqui perto de casa tem uma Catedral Submersa. Tá cheia de pipas enroladas nos fios, de crianças riscando o chão com resto de tijolo, de cachorros felizes de serem solteiros e sem família pra criar.
Vejo tudo de dentro.

De dentro de qualquer templo que a gente cria, é assustador ser observado. Meu quarto era frequentemente invadido por gatos gordos que deitavam na minha cama. Mas eles nunca me viram orar, rezar, clamar. Era sempre eu que interrompia as preces sonolentas deles quando chegava da escola.
Até o dia em que abri os olhos. Um gato. Gordo, branco e alheio. Alheio? O susto foi por que abri os olhos e vi ele ali, ou porque concluí que ele me olhou durante todo o tempo que estive de olhos fechados?

Eu mal conseguia respirar. Era o gato? Era a submersão? Eram as preces?
Era eu.
Sobressaltada, corri. Porque sempre corro ou fico toda parada.
Já são meio dia e...toda parada.
Sabe por que?
Não sei bem, mas desconfio que tem alguma coisa a ver com o fato de que não tenho respostas. Só uma tonelada de perguntas erradas.
Para cada uma delas deve existir pelo menos duas respostas. E vai ter sempre algum chatinho dizendo qual a certa e qual a errada. Qual me valoriza mais, qual vai me fazer ser menos quem eu deveria ser.

Uma espinha de peixe não serve pra qualquer gato. Nem pra todos os gatos juntos.
Após uma grande quantidade de veneno espalhada pelos vizinhos, todos os gatos morreram.

Tem gente que entra na Catedral pra orar. Tem gente que entra pra conhecer. Tem gente que nem entra, só fotografa. Tem gente que ignora. Tem gente que corre.
A semelhança é que todo mundo tá submerso por alguma coisa. Umas coisas mais turvas outras mais límpidas. A Catedral só está ali, esperando o significado que cada um vai lhe dar. A Catedral ri. Os gatos também. Só os vivos, digo.

Pros egípcios os gatos eram sagrados. Nos ratos, eles metem medo. Em alguns países, eles são alimentos. Eu tenho alergia forte deles.
Pros meus vizinhos, somente digo que não adianta matar os gatos se ainda se está engasgado com as espinhas do peixe.

Um comentário:

Inara disse...

Foda.


Assim, muito foda esse texto.


No duro. Não tenho competência pra comentar, então fico com o mesmo palavrão: foda.