terça-feira, 18 de janeiro de 2011

E tudo vira tragédia ou Matilde não quer Morrer

Olhou no espelho e viu aquela leve barriguinha. Vestiu a roupa e foi andar.

Na hora que saiu na rua viu a gorda da Marcia, ruiva e mais gorda do que há dez anos atrás. Matilde não gostava de ter raiva de algumas pessoas gordas, mas  a Marcia era daquelas que ela não sentia remorso nenhum. Eram amigas quando pequenas, até Marcia roubar os desenhos e o namoradinho de Matilde.

Matilde suou muito.
Pelos desenhos...
Pelo namoradinho...
E depois de duas horas de caminhada...

 Duas horas da manhã. Aquelas benditas estrelas no teto que ela odeia. O irmão dela parece criança. Fuça na agenda do celular. Com dó de si mesma, os olhos marejam porque não tem como ligar para ninguém aquela hora. Os outros podem ligar, ah se podem! Podem ligar bêbados, chorosos, tristes, alegres...mas ela não. Por que não Matilde?

Quando amanhece, manda SMS para um amigo, chama no MSN aquela menina que sempre desabafa com ela, manda e-mail, escreve uma publicação no Facebook dizendo que está cansada, um texto longo no blog, uma foto meia boca no Fotolog.


- Oi Du, tudo bem? Pode falar agora? É que eu estou com umas dúv...
- Ahhhhhhh...Matildeeeeeeeeee...que legal que vc tá aqui. Viu aquela foto que eu postei?  que vc achou?
- Não não vi...é que eu acab...
- Ahhhhhhhhhh...então entra lá e vê, porque é importante quero saber o que vc achou. xau tô saindo. Depois a gente se fala. Saudades.


Ela foi lá, viu a foto. Nada demais. Foto bem feia inclusive. Du era uma bicha bem deslumbrada com tudo. Mailde tinha preguiça dele às vezes, mas ele era muitíssimo inteligente. Só parecia esquecer disso.


- Oi Tânia! É a Matilde, como vai? Já voltou?
- Não sua malucaaa...cê acha que se eu tivesse voltado tava com essa voz maravilhosaaaaaa?
- Poxa que bom que tá se divertindo por aí. Quando voltar me avisa, porque tô com umas idéias pra...
- Ha ha ha ha...Voltar? Não tôo nem pensando niiiissoooo...


Tânia parecia ter fumado, feito sexo selvagem durante horas ou ter tomado a erva do gato. Ou não era aquela pessoa cheia de pilha para começar logo um trabalho legal no começo do ano. Ou mais uma vez, Tânia incentivou Matilde e depois desistiu daquele monte de coisa bonita que tinha falado.

Matilde sentiu o coração doer.

Pegou o celular
Discou meia-dois-dois-quatro-cinco-sete-zero-nove-zero-zero
Chamou, chamou, chamou, chamou

Certo, ele deve ter ido para Bali de novo sem avisar.

Pensou em todos os nãos que já levou
Nos silêncios que já provou
No mofo das paredes

Matilde entrou num buscador e pesquisou um veneno que fizesse morrer rápido. Fez o pedido e dizem que chega daqui cinco dias. Enquanto não chega, segue com a arma engatilhada na garganta.
Esqueceu, inclusive, que é bem brega sentimentos grunges suicidas.

2 comentários:

Bill Falcão disse...

Boa garota!
Bjoo!!

Anônimo disse...

Ando meio ocupada com a rotina sabe? Aquela que você acorda e não vê a hora de voltar pra cama. Daí acordei hoje, abri a janela da esquerda, coloquei o pé no chão gelado e busquei um cd na gaveta... All I Really Want.
Entrei na minha caixa de correio eletrônica e recebi um bendito convite para visitar um fabuloso mundinho particular (conta-se dias que não te lia) e dou de cara com essa grunge maliciosa.. Estamos caminhando pelos trilhos e faz tempo que não passa um trem; uma arma de vez enquando, faz bem para a cabeça. Ou tudo isso era só um 'olá' que você não esperou.