Já fui atropelada duas vezes. Das duas, desmaiei e ao abrir os olhos, a única constatação que tive foi: "Estou viva"".
Não pensei "será que morri?".
Já tive dois problemas sérios, físicos, o mesmo problema provocado por duas coisas diferentes, em que senti muita dor. Não vou mencioná-los aqui. Mas não era uma dor de morte.
Já tive crises de asma, de ficar três dias internada.
Mesmo sem ar, nunca achei que fosse morrer.
Há uns vinte dias atrás, achei que sim.
Lembrei do meu tio e sua experiência de quase morte. Rolava de dor caído na Avenida São Miguel. Jura que viu Jesus e muitas coisas coloridas.
Era uma pedra no rim, rasgando seus canais internos.
Acordei às cinco da manhã. Não sentia dor. Nenhuma. Mas parecia que tinha engolido concreto e que, depois de seco, me pesava e não me deixava dormir. Peso concreto dentro de mim.
Provoquei vômito, mas a coisa dura não queria sair. Voltei para a cama e...
Vomitei por três horas seguidas.
Um caminhão betoneira não seria capaz de tanto!
Ocorre que depois de vomitar o que não era bem uma janta, cheguei ao vômito do almoço e a dor foi dilacerante. Achei que eram os rins. Depois, lembrei que poderia ser a vesícula. Aí parei de achar, quando a dor chegou ao peito e às costas. Tive certeza absoluta de que iria morrer.
Depois de mais uma hora vomitando, com os cuidados dos que me pariram e criaram, a dor cessou.
Tive certeza de que não tinha morrido e tomei um remédio.
Aí continuei morrendo por três dias, porque todo remédio, líquido, sólido, toda comida, tudo tudinho, não parava dentro de mim.
O fato mais importante é: eu estava fluindo num momento importante de (re)descoberta do prazer de trabalhar com teatro. Vivi uma semana, em que mal conseguia segurar o telefone para falar com as pessoas.
O diagnóstico médico, foi de intoxicação alimentar grave.
O meu diagnóstico, foi de limpeza profunda aguda!
Ninguém conhece meu corpo melhor do que eu!
Não faço tabelinha. Sei exatamente o dia que vou menstruar.
Evito os remédios. Sei exatamente quando o corpo vai adoecer.
Senti o cimento duro dentro de mim.
Era o corpo concentrando as coisas para expelir.
Foi tão castrante a restrição, que apesar de entender que o corpo precisava do tempo para se reorganizar, eu só queria correr.
Correr de volta para as coisas que estão me fazendo bem!
A intoxicação foi o chefão que tive que matar para passar de fase.
Agora tô naquela fase cheia de bichinhos e muita água. Às vezes brota do chão umas bolhas de ar e eu dou pulinhos para respirar com elas.
♫ Tô mergulhada no profundo. ♪
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