domingo, 25 de outubro de 2015

às vezes o cara volta

De novo, essa noite.
Ele veio e me ofereceu um. Mas era enorme e estava em brasa. Parecia um tijolo mesmo e a seda não segurava. Tava muito seco. Deixei de canto e caiu em cima de uma almofada, que ficou em brasa também. Ele tava mais moreno, rosto suado, com o olhar baixo, de quem carrega aquela culpa descomunal de ser responsável por uma vida ter acabado, Fez um menor pra mim. Puxei a fumaça uma, duas, três vezes e nada; como era no princípio.
Mas no princípio não era aquele rosto que ele tinha.
Quando saí do quarto, estava ele lá na rua, com o rosto mais recente.
Saco!
Bradava o quanto tinha me ajudado, aquela coisa de menino mimado que não aguenta uma decisão concreta e que pra tudo quer propaganda exagerada do pouco que fez, principalmente quando acha que não teve reconhecimento nenhum. Comecei a bater nele e o joguei pra dentro da garagem. Ou pelo menos, é nisso que quero acreditar.
Foi anoitecendo e o cara não ia embora. Ficou com o rosto de dois meses atrás. Aquele que exercita mais os músculos. Enquanto flertava a contra gosto com ele, alguma coisa bateu forte e quando vi, já era outro cara que tinha acordado comigo. Quer dizer, era o mesmo, mas o rosto era aquele obscuro, de quando eu tinha 17 anos.
- Como você entrou aqui? Você usou camisinha?
Ele riu e disse que não tinha certeza e perguntou porque eu estava tão brava.
- Usou ou não usou?
Vestiu a calça e saiu.

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