Aquele dia, não me lembro se já tinha um espinha aqui no queixo. E nem sei se devo devolver outras palavras em troca das que recebi, porque não sei se eram para mim na verdade. Mas como tem muitas espinhas aqui e as palavras estavam ali, as peguei para mim.
Deve saber bem que ainda não quebrei o vidro e acabo de ouvir, mais uma vez, que estou chegando aos 30. Sinceramente não acho nada de mais nisso, porque minha vida ainda é um caminhão desgovernado como era aos 17. A diferença é que não tenho saído ilesa por viver os extremos.
Ultimamente tenho exagerado em aspectos impalpáveis. As tempestades imaginárias e os delírios noturnos são exteriorizados por palavras duras ditas à pessoas que eu jamais teria coragem de dizer. Tenho cortado com navalha cruel tudo o que simplesmente ameaça não me fazer bem. Tenho sido dura demais comigo, implacável com as arestas. Sempre fui um pouco, mas agora está tudo mais exposto, como fratura que não se aguenta olhar. Seca e crua, vou pagando o preço caro de receber tudo de volta, no ato, sem juros.
Não sei mais se a questão é achar o que perdi, mas as questões são tão velhas quanto a mania de me esconder no canto frio do banheiro mal azulejado.
Então a essa altura, eu correria o risco de fazer o uso inapropriado da palavra resgate. Sim, concordo que fazemos mal uso dela. Não tenho como achar algo que nunca tive, meu caro. Mas pedi hoje, deitada na cama segura de minha vó, com todas as minhas poucas forças, um pouco de calma para domar a loucura. Sei que é um paradoxo. Mas tenho isso de querer um pé cá outro lá. Não tenho direção correta. Minha aparência incorreta denuncia não? Todos sabem que não sou boa pessoa. Você também sabe.
Quanto ao inseto, essa semana uma pessoa que não conhece as mesmas pessoas que nós dois conhecemos, me disse que repetindo, repetindo, uma hora as coisas ficam diferentes.
E é bom saber, que mesmo com contratempos está bem. Há um tempo atrás todas essas coisas juntas seriam uma tormenta, não?
E tudo fica mais concreto, quando apenas conversamos. Mesmo sabendo que ainda há um abismo.
Um comentário:
Repetindo, repetindo, uma horas as coisas ficam diferentes. Nenhum abismo é tão cruel que não seja passível de ser enfrentado. A vantagem é que ele fica cada vez menos assustador e a ansiedade de vencê-lo diminui também.
Beijo menina de lá. Gosto de você e ainda somos moços.
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