quinta-feira, 10 de junho de 2010

A terceira vez a gente nunca esquece

Roubar é algo intenso, é um vício. Mas chega uma hora que pegar o que é dos outros fica pesado demais.
Roubei outro carro. É, outro. Sim, já roubei outras duas vezes. Dessa vez não fui muito discreta. Mas ninguém soube de nada. Aliás nunca sabem de nada, mas tem sempre olhos enormes sobre mim, me seguindo.
Na minha ânsia de aproximação, resolvi contar de forma curta, grossa e direta. Acho que não consigo. Roubei um carro. Dessa vez não foi fácil. Não tive que arrombar nada, mas também a porta não tava escancarada. Contei com um descuido, a dona do carro achou que tinha travado o trinco e não conferiu antes de sair correndo pra dar banho na criança e levar na festinha da casa ao lado. Meu nervosismo não era por causa do roubo. É que faz mais de um ano que não dirijo e a última tentativa na Avenida do Estado às três da manhã, foi meio frustrada e irresponsável sabe? É, eu sei. Sou meio irresponsável.
Me deparei então, em pleno ato, com meu último vínculo com o que havia de velho sobrando em mim. Sabia que tinha que fazer tudo sozinha e no meio do caminho comecei a chorar. Me senti tola. Abandonei o carro e entre na rodoviária. Tietê. Decidi continuar a viagem de ônibus.

A minha viagem ia ser diferente.

Tinha que escolher um destino desconhecido. Só que depois de alguns muitos lugares agora conhecidos, revividos em novas visitas e intensamente na memória, no coração e nas imagens congeladas, não poderia ser qualquer coisa. É difícil se render a um novo rumo, atracar no desconhecido de olhos fechados. Mas tinha que ser assim. Meu pulso pedia.

Conselho. A promessa do nome.
As pessoas passavam por mim, era tudo rápido, depressa, tudo corria. Na última meia hora, tudo andava para trás. A prévia do embarque foi uma briga de homens brutos, por causa de cinco minutos de atraso. Pensei seriamente em voltar e pegar o carro abandonado, seguir com ele.
O caminho foi uma espera de dez, onze horas, não atrevia a me mexer no banco e quando mexia era uma angústia terrível. Era como sonho, como pesadelo, como semi sono.
No despertar perigoso...uma placa com meu nome? Era. Olhos abertos e uma placa com meu nome completo. Pensei que tinha sido descoberta. Que o roubo do carro tinha atravessado as fronteiras do estado e estavam lá com algemas para me prender. Mas não. Era uma placa me recebendo, feito filme americano. Eu era bem vinda.
Forasteira medrosa, desci as escadas do ônibus como quem pisava em ovos, em nuvens, em brasa, tudo ao mesmo tempo. Não eram algemas. Mas era susto...

(...continua)

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