quarta-feira, 16 de junho de 2010

Trac Trac ou apenas mais uma vez

Rápido, muito rápido. Pá. Seco como sempre. Pé no freio. O outro no acelerador. O risco. O benefício da dúvida. A terceira vez pode ser um atropelo ou só um motor potente que frena de 100 à 0 em uma semana. Os segundos dos dias passaram feito brisa que entrava na janela do carro que roubei. Dos que não roubei também e do ônibus em que resolvi seguir. Há o caminho de volta, mas não há viagem desfeita. É possível desfazer as malas, mas não dá para engavetar as experiências. Elas estão ali, atolando o armário, pedindo para serem carregadas para outros lugares, usadas, doadas, surradas. Esquecidas. Todas minhas.
Forasteira medrosa, estive em terras lindas e desconhecidas. Viagens novas, antigas, para fora e para dentro.
Depois desta, daquela e daquela outra, volto mais...outra. Vou sendo outra em cada porto e voltando mais eu, silenciosa, reverente, despedaçada e agradecida, para minha casa, meus amigos.
Assim como o despertar, o retorno é perigoso. Uma marreta grande vai quebrando o muro alto e largo. O calor vai derretendo o gelo. É preciso mais que um homem para acelerar o que é natural. É preciso acionar o tempo, a calma. Recaídas acontecem, é fato. Até o próximo roubo, sigo arquitetando planos para nada, construindo sonhos no vento e fugindo por dentro dos túneis do metrô, que sempre me trazem de volta para casa.
Era só um sustinho. Coisa boba. Um calorzinho na ponta do iceberg. Quando acordei depois de dez horas de viagem, congelada de ar condicionado frio, era a cidade cinza que me esperava. Entreguei para ela as montanhas e as promessas por desfazer.

Um comentário:

Eduardo Bispo disse...

belo texto... com pensamentos assim consegui entrepretar de 10 formas... adorei o texto continue assim