sábado, 20 de novembro de 2010

O desapego segundo o budismo e os ruídos na comunicação

Momento de insights, distanciamentos, aproximações. 
Há 8 trânsitos em seu mapa, Pollyanna.


"O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno" C.L.


A fumaça do cigarro inebriando
"- Que olhar de interrogação é esse?"
"- Interrogação?"
- Não é interrogação né? É exclamação!"

"Entretanto, nunca limpamos um apego dizendo-lhe apenas que se vá. Só quando alcançamos uma clareza de percepção a respeito de sua verdadeira natureza é que, de maneira silenciosa e imperceptível, ele some. Como um castelo de areia por onde as ondas passam, ele se desfaz aos poucos e por fim... onde está? O que era?"

Em algum momento lá atrás, quis escrever sobre um reencontro definitivo para o estado em que me encontro hoje. Quis falar sobre como foi libertador estar ali, somente meu corpo e nenhuma intenção afoita de resgate, renascimento, recomeço. Mas não falei sobre, nem escrevi e simplesmente fui embora com um sorrisinho leve no canto da boca e o teor alcoolico um pouco elevado.

"A questão não é como nos livrar de nossos apegos ou renunciarmos a eles; trata-se da inteligência de ver qual é sua verdadeira natureza, sua impermanência, seu vazio, sua fugacidade. Não precisamos nos livrar de nada."

Desapegar-se não é tornar-se indiferente. Estar com o ser é esquecê-lo, não ignorá-lo.
Depois que o teor alcoolico se dissipou, pude avaliar melhor o que tinha se dissipado junto com a bebida. Nada daquele apego, daquele peso estava mais aqui, ali, acolá. Pode ser que tenha chegado a esse estado, por ter compreendido, entre outras coisas, que estávamos vivendo momentos distintos e intensos. Cada um do seu jeito. Ou foi porque vi o muro que ele construiu para se defender. Ele não sabe, mas tem um muro ali. E os olhos dele não tinham mais brilho da curiosidade. Essa era a exclamação.
Ele deve saber sim. É o muro dele.

"Os apegos mais difíceis e insidiosos são aqueles que pensamos serem as verdades espirituais. O apego àquilo que chamamos de "espiritual" é a própria atividade que detém uma vida espiritual. Se somos apegados a qualquer coisa, não podemos ser livres, tampouco verdadeiramente amorosos."

A rotina não dá tempo de sentir saudade. Tinha muita coisa boa saindo ali daquela boca, inclusive isso sobre o casamento. Mas atrás dela tinha um arsenal de arrogância bombardeando aos poucos meu ouvido. Um falso estado de despreocupação e conversas paralelas do outro lado da linha e um quase pouco caso inconsciente, invadiam o espaço que eu generosamente não me preocupava em ocupar com minhas conclusões. O telefone desligado a sussurrar depois, uma dor e quase um arrependimento de ter estado atenta trinta e cinco minutos às palavras que falaram mais do que foi dito.

"Enquanto mantivermos qualquer imagem de como devemos ser ou de como os outros devem ser, estamos apegados; e uma vida realmente espiritual é apenas a ausência disso. "Estudar o ser é esquecê-lo", nas palavras de Dõgen Zenji."

Palavras escritas e registradas. Porque ele me pedia para colocar as coisas para fora. E aprendi a ser obediente, honesta. E minha fidelidade sempre esteve esperando o encontro com a falta de medo dele. Mas o fascínio mútuo por nosso intelecto sempre nos distraiu dessa coisinhas importantes. Para digerir tudo, quatro minutos e cinquenta e cinco segundos de hard rock.


*trechos em italíco extraídos http://www.nossacasa.net/shunya/

Um comentário:

Josi disse...

o meu muro é alto e de parede muito espessa que protege o meu casarão, daqueles do século passado numa ladeira antiga..