Matilde e o sádico - O mau retorno

Matilde se olhava no espelho.
Cara de totem boliviano, produzido em larga e péssima escala.
Se perguntava com lágrimas nos olhos e com dó de si mesma, o que AINDA fazia ALI.
Vivia (e ainda vive) na inércia do profundo sono que provocou em si mesma.
Matilde já tomou borrachada da polícia em manifestação.
Matilde já abriu a porta traseira de ônibus coletivo, para a população entrar de graça em dia de protesto.
Matilde já pichou muro.  
Matilde cansou e dormiu.
Dormia o sono dos bons ignorantes.
É o que ela achava.
Se achava boa porque chorava assistindo Globo Repórter sobre golfinhos.
Matilde foi ao médico depois de acordar do sono profundo inventado.
Pulmões inflamados.
O sádico atual que Matilde escolheu para lhe sufocar, exercia tão bem seu papel, que o pulmão moribundo de nossa pseudo heroína, ameaçava estourar.
Acontece que Matilde tinha problemas crônicos e paleozóicos com autoridade.
Era doença terminal.
Os problemas com autoridade, não os pulmões.
Sentia que devia ter algo inflamado no estômago também.
Ardia.
O sádico potencializava em si, todas as "qualidades" dos cinco sádicos anteriores.
Ou Matilde as potencializava?
Ela tinha todas as armas brancas possíveis, apontadas para si.
As coloridas também, de calibre trinta e oito em sua maioria.
Mas era o sádico que queria empurrá-la para a fogueira.
Matlde fazia a cara de quem queria testar e ver se o fogo queimava mesmo.
O sádico ria com os dentes fora do lugar.
Matilde gritava que não.
E entrou, com prazer, como não?
Quem não aumenta a estima por si mesmo ao ver que está sofrendo um sofrimento estético-político-dramático-interessante à olhos vistos?
Vaidade assumidíssima.
E mesmo lá, Matilde não se livrou do desafio.
Nem dos chicotes estrategicamente estalando em sua direção.
O anel de fogo ainda está aceso.
E sua inflamação desce para os joelhos.
Matilde tem tendências paralizantes, estagnantes...
Repugnates.
E segue acordada. Queimando no fogo dos justos.
É o que ela acha.