quarta-feira, 17 de agosto de 2011


Perco tempo me perguntando com que botas se veste Matilde. Ela agora deu para ficar falando baixo ao telefone.
Disse que ia marcar um encontro com um rapaz.
Aposto que ele nem sabe quem é ela.
E se sabe, ignora.
Desligou o telefone risonha.
Vai querer marcar depilação, colocar roupa nova, sapato, brinco que não gosta só...
VERMELHO TOMATE!
Da última vez que Matilde saiu do quaro com as unhas daquela cor, teve a experiência mais amarga de arrependimento via Embratel.
"Você vai sair daqui achando que é capaz de tudo. E é! Mas tome cuidado para não se atropelar"
Matilde acha que os homens ligam pra esses detalhes
Acha que é importante a lingerie
Matilde, volte a justificar os tropeços!
Tem coisa mais frágil do que encontrar pela primeira vez?
Rompimentos não! São fortes porque tem carga, história e rancor.
Sei que marcou encontro com o cara no Parque da Independência. Lá mesmo, onde me escondia depois de roubar carros.
Foi de propósito.
Quer ver?
Antes de sair, borrifou Alma de Flores de sua vó no sovaco. Galopou no seu Corcel II, pela Avenida do Estado.
Óbvia que é, Matilde cortou caminho pelo Cambuci.
Quis voltar antes de chegar no largo.
Matilde era pixadora em 2007, sabiam?
E foi uma pixação gigantesca que ela mesma fez, perto das Casas Bahia, que paralisou Matilde.
Covardia?
Eu ri!
Pixação da época em que ela me fazia acreditar que lembrança eterna era brilhante e não importava a dor que causava.
Mas não precisei ir ao Tibet para descobrir que não é.
Vai Matilde!
É lembrança?
A tinta? Ou é o tempo que você acha que dedicou e não quer desgarrar de você?
Arrancou a porta do Corcel, saiu e avançou até o muro. Tirou a unha cada lasca de parede onde tinha tinta sua.
Só não derrubou o muro, porque esse não era seu.
Obediente que é, entrou no carro, mais arejado pela ausência da porta e seguiu.
Ao se aproximar do parque, sentiu o mal cheiro do rio Tamanduateí. Avistou uma mesa com toalha branca, perto da casa do grito, embaixo de uma árvore. Chegou mais perto e viu um cara de terno branco e gravata preta.
Um garçom?
No lugar da cara, um ponto de interrogação.
- Garçom?
Um pergunta bem no meio do peito de Matilde. O homem-garçom apontava para a mesa.
Frutas, água...
Envelope.

Se Matilde não correr para a esquerda e se esconder na Maria Louca, o relato continua.
Pode ser só um tiro de raspão. Ou um calibre que mutile.
Mas já explodiu e sabemos que Matilde não morre.





3 comentários:

Ivan Eiji Simurra disse...

Bom dia, Matilde!!!!!

às vezes, acho q seus homens se transformam durante seus contos, sabia???

Visite mais parques! quem sabe o que vc nao precisa é de ir em busca de novos parques !?!?!?

Franklin Jones disse...

Matilde?
Um encontro no parque da independência, algo grita por liberdade ou foi casualidade?

Polly disse...

Casual?Matilde ainda não voltou