sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Retranca de uma cidade mal lavada

Pelo retrovisor, ele vindo com ela, cambaleando.
Ele, um cara.
Ela, a moto.
Ele de terno, ela no asfalto.
Ele tentava se equilibrar.
Ela pesava, pesava. Pesava!
Fica longe dela! Mantenha a distância dele.
Logo ali na outra esquina, um caminhão entalou.
Mas não era qualquer caminhão: era água potável.
Olha a cara dele. Quero chegar mais perto dela!
O motorista, meio que adivinhando o pensamento dos motoristas, que diminuíam a velocidade não por curiosidade, mas como que se dando um tempo para imaginarem de que forma o caminhão poderia ser levado para si... do que eu tava falando? Ah! Do motorista. Ele sabia que dentro dos carros que passavam estávamos nós sedentos pela água potável, que outrora deixávamos escoar pelo ralo em banhos intermináveis, pós bebedeira, pós briga de fim de relacionamento, pós qualquer coisa que servisse de desculpa para ficar meia hora no banho pensando na vida.
Eis que o caminhão ficou para trás e logo em frente uma kombi solitária. Seu dono ou apenas o eventual motorista naquele momento, sentou-se resignado.
a CET sinalizando o desastre dele. Não dava pra ver o que tinha no interior dela.
Seguindo para o término do trajeto e quem sabe o fim de tantos episódios...
Ele parado. Ela aguentando o peso.
Ele o trânsito, ela a Consolação.
Veículo longo para desconsolo.
Cruzamento fechado por carros amontoados.
Fique atenta, não relaxe, o trânsito flui, mas a Consolação ainda não acabou.
Não acaba, nunca acaba, nem quando o que sobra dela, fica só no retrovisor.

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