sexta-feira, 3 de abril de 2015

Como não tinha mais saída, recorreu à uma ponte capenga.Verde clara. Aquele verde-plástico-leitoso que a remetia às aulas, às malditas aulas no ensino primário. Odiava o som abafado da cidade amanhecendo e o caminho que tinha que fazer até a escola, sempre com sua mãe muito à frente e ela com sua mochila muito atrás. Odiava ter que atravessar aquela ponte capenga e além de encarar as lembranças ter que encarar seu pavor da altura e da escuridão da água que estava sob ela. A ponde dançava freneticamente. Muitas balançadas a cada passo e não havia espaço para sentir enjoo. Mesmo assim, talvez pela força do costume de querer ser boa, pensava nos que ainda teriam que passar por ali depois dela. Quando estava a um passo de pisar em chão firme, viu Fernanda. Viu que Fernanda esticava os braços. Viu que Fernanda lhe oferecia a mão. Viu que Fernanda queria ajudá-la. Lembrou que uma semana antes, viu Fernanda no metro, depois de 15 anos sem vê-la. Achou que Fernanda estava feia como sempre. E como não gostava de Fernanda, mesmo tendo uma convivência pacifica diária, ignorou o encontro casual e fingiu que não a viu. Agora, a um passo de se livrar da ponte, só tinha uma saída.

Um comentário:

Gugu Keller disse...

A vida e seu vazio têm um quê de ponte e rio.
GK